segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Espírito do Norte


Qual sua razão de viver? O que isso faz de você?



Ida ao Velho Castelo

Dia 7, Terceira Semana, Segundo Mês:

Após forte galopar por dois dias seguindo trilhas seguras pelos conselhos de Kevan Lake, Simon finalmente vislumbra o que ele havia lhe traçado por destino.
Naquela tarde nublada Simon encontraria o Velho Castelo da Casa Locke. Casas ao redor, mas nada que sugerisse algum tipo de povoado organizado, talvez apenas as famílias dos soldados das terras. Os guerreiros dos Locke logo receberam Simon, e quando souberam dele, escoltaram-no para um dos mais magníficos castelos que Simon já vira, tão magnífico quanto as melhores fortalezas criadas na muralha e além pelos patrulheiros. Um Castelo cinzento de história, como se ele não fosse feito de pedra, mas de vidas, eventos e acontecimentos. Ao entrar, um corredor inteiro com várias armaduras negras e espadas com placas de nomes. Nada poderia impressionar mais Simon. Todas armas e armaduras de patrulheiros da noite, todos homens Locke. Uma Casa que merecia uma honra de ser conhecida como uma verdadeira Casa dos Corvos.
No grande salão do trono, um senhor talvez tão velho quanto o castelo. Ali, Simon conhecera o senil Lorde Ondrew
Ondrew Locke
Locke, com dificuldades de se mover de tão velho.
Simon fora saudado como um verdadeiro herói pelo senhor, que se mostrou ávido para saber de Rios de Sangue sua versão do que ocorria com o Norte, além de o que um patrulheiro da noite fazia de volta a sua casa. Não só, mas também gostaria de saber dos Locke que estavam na muralha, afinal, era uma família que sempre tinha um de seu nome na muralha.
Não foi difícil que o velho Locke acreditasse na palavra daquele Patrulheiro da Noite, o qual ele via como um verdadeiro herói, assim como são todos os patrulheiros. Um momento em que o velho Locke jura total ajuda a Simon contra o mal de além da muralha e que ele ajudaria Simon a unir o Norte em prol disso.
Mas aquele não era um velho que se escondia, ele já enfrentara a vida por muito tempo, e quem passa muito tempo na vida aprende a enfrentá-la sabendo de suas desgraças. "Enviarei uma Carta aos Bolton informando que os Locke não são mais independentes. Informando que jurei Espada a Simon Rios de Sangue, e que os Locke agora estão na aliança Os Avatares do Norte, liderados pela Casa Kasimir. Não esconderei meu rosto como muitos fazem. Tempos de crise não são tempos de se esconder o rosto.", aquelas palavras do Velho Locke tinham mais poder de ação que qualquer espada ou exército. Atrás daquela casca velha, Simon pode entender um pouco do que é ser um guerreiro, e aquele velho não viera ao mundo para simplesmente passar. E nem Simon.
Simon estava pronto para partir aos Umber, após saber de Ondrew que talvez os Umber tivessem poder para dividir o Norte ao meio, e que talvez um único combate vencendo o Grande Jon Umber fosse o suficiente para mostrar aos Umber que eles devem servir a alguém mais forte. Segundo o velho Locke, essa era a mentalidade dos Umber.
Simon recebe uma nova armadura, dessa vez uma armadura negra das que estavam na entrada, foi honrado por Ondrew, quando Simon faz sua escolha: sou um corvo.
Simon e Ondrew declamam o juramento dos corvos, e ali Ondrew sagra Simon um corvo, pela sua segunda vez:
 “A noite chega, e agora começa a minha vigia. Não terminará até a minha morte. Não tomarei esposa, não possuirei terras, não gerarei filhos. Não usarei coroas e não conquistarei glórias. Viverei e morrerei no meu posto. Sou a espada na escuridão. Sou o vigilante nas muralhas. Sou o fogo que arde contra o frio, a luz que traz consigo a alvorada, a trombeta que acorda os que dormem, o escudo que defende os reinos dos homens. Dou a minha vida e a minha honra à Patrulha da Noite, por esta noite e por todas as noites que estão para vir.”

Cada palavra ali jurada eram talhadas profundamente na alma daqueles dois, do velho e do novo. Simon sabia que naquela sua missão seus votos estavam sendo quebrados, mas não só naquele dia mais quase todos os dias tentava lembrá-los para si mesmo. Na situação em que estava, como firmar seu juramento senão quebrando-o?

Houve um restante de dia de descanso. Simon partiria no dia seguinte, mas algo dele ficara ali, naquele Castelo, com aquele velho, Simon sabia, mas não entendia.


O Culto aos Outros?

Dia 1, Quarta Semana, Segundo Mês:

Simon já se aprontava a sair, já fora do Velho Castelo, quando fora buscar seu cavalo, um dos guerreiros da Guarda Pessoal de Ondrew Locke parecia lhe esperar. Eu preciso de sua ajuda grande patrulheiro, disse o homem. Então, Jack, que era seu nome, logo explicou para Simon que ele havia recebido uma missão do velho Locke para descobrir se os boatos sobre Os Outros nas próximas terras da Casa Overton eram verdadeiros. Mas, Jack ouvira falar sobre Simon e suas façanhas, talvez apenas um patrulheiro de tal porte pudesse ajudá-lo, e Simon, num sorriso de loucura, logo se prontificou.
Jack informa que a guia deles seria Sigrid, uma plebeia que já morou próximo aquelas terras e disse que sabia um lugar onde eles poderiam conseguir melhores informações sem adentrar de fato o território da Casa Overton. Rondi e Luccian também eram dois Soldados Locke e amigos de Jack que iriam. Além disso, não iriam a cavalo, mas a barco, para serem furtivos, e quem iriam os ajudar nisso era Mirian, uma antiga amiga de Jack.
Logo se reuniram junto a costa próxima ao Velho Castelo, onde o Barco da comerciante Mirian os esperava.
Trocaram algumas conversas e começaram a se conhecer ao partir naquele mesmo dia.
Mirian era uma grande amiga de Jack, logo Luccian se deu bem com Simon depois de uma boa conversa sobre batalhas.
Um dia chuvoso, mas que não os parou.

Dia 2, Quarta Semana, Segundo Mês:

Um dia claro e de ventos fortes que facilitou a viagem. Mirian percebeu que conseguiriam chegar na metade do tempo que planejara.
Simon olhava os céus e conversava como se conversasse com Frank. Todas as noites ele conversava com os céus tudo que sempre esteve entalado em sua garganta para falar com seu pai. Era fácil matar homens e criaturas em combate, mas Frank era um fantasma que Simon não conseguia derrotar. Você não vai me parar Frank, dizia ele. Mas sabia que ele entrava naquele combate já derrotado.

Dia 3, Quarta Semana, Segundo Mês:

Com mais um dia claro, facilmente eles conseguem chegar. Pouco antes de adentrar o Rio Faca Branca, atracam e iniciam caminhada nas terras da Casa Overton. Mirian leva dois de seus marinheiros com ela, Jack lembrou que eles deveriam primar pela furtividade. E é assim, furtivamente, que eles passam o restante daquele dia em viagem a pé, de modo a não serem vistos por patrulheiros da Casa Woolfield ou da Casa Overton, pois estavam em território que seria a fronteira de ambas.

Dia 4, Quarta Semana, Segundo Mês:

O dia seguinte foi de longa viagem, sendo guiados por Sigrid. Mas não foi um dia fácil, aquela tarde foi de chuva pesada depois de uma manhã de céu nublado. Simon avista o que seria uma caverna entre as colinas, mas percebe que havia alguém por lá, então decide ir a frente com Luccian enquanto os outros deveriam esperar.
Lá, Simon acaba se deparando com muitos homens, após um tenso reconhecimento entre os que estavam no local e quem chegava. Simon pede para que Luccian avise aos outros para que saibam que não há problema, depois de ter uma conversa inicial com os homens. Enquanto Luccian retorna para avisar e chamar os outros, Simon descobre que aqueles homens são uma quadrilha de bandidos, verdadeiros bandoleiros, por um instante Simon não seria atacado por eles, que se interessaram na preciosa espada de Aço Valyriano de Simon, pois Rios de Sangue consegue convencê-los que de onde aquela espada veio, há muito mais. Assim, firma um trato com os vinte bandidos dali, que trabalhem para ele em troca de ouro, pois ele é um nobre da Casa da Montanha do Grifo. Naquela noite dormiram todos juntos na caverna, enquanto o destino parecia olhar por Simon. Ou seria Frank?

Dia 5, Quarta Semana, Segundo Mês:

Após um dia de muita chuva, nasce um dia indeciso, nublado mas sem uma gota dos céus. O choro de Frank não atrapalharia Simon naquele dia, pensara o patrulheiro.
Um longo dia de viagem, sendo guiados por Sigrid, que afirmava que estavam bem próximos.
No entanto, aquela não seria uma noite feliz. Todos foram atacados por três gatos sombrios, animais extremamente ferozes e um dos mais perigosos do Norte. Quase como um alerta para Simon, que sabia que aquelas criaturas não viviam por aquelas terras, mas sim nas montanhas geladas próximas a muralha. Além disso, aqueles gatos sombrios não costumam atacar em tamanha desvantagem numérica como estavam, três contra vinte e oito. Não era o comportamento daquelas criaturas. Mas nem sempre alertas são o suficiente para salvar vidas, e dessa vez foi o fim para um dos bandidos e também para Mirian, a comerciante amiga de Jack. Luccian sobreviveu por pouco, embora muito ferido. A loucura de Simon que o fez aceitar com ferocidade aquele pedido de ajuda de Jack, também o fez com que ele não se importasse com as mortes, sua loucura lhe obcecava. Embora os outros começassem a temer o caminho.
Descansaram num luto desértico que era aquela planície mortífera.

Dia 6, Quarta Semana, Segundo Mês:

Mais um dia de viagem em tempo nublado de morte nos céus. Simon, feito um corvo, seguia ávido por seu destino. Ele faria seu destino, como quando pensara naquele dia do Renascimento do Grifo, quando Vester lhe falara sobre escolher quem se é. Mas não, Simon estava obcecado demais para perceber que suas pequenas ações eram escolhas a cada segundo de sua vida, Simon estava obcecado que não percebia que estava obcecado. Embora os outros não percebessem, era aquilo que se fomentava a cada instante dentro de Simon.
Finalmente uma cabana isolada na colina. "É ali", disse Sigrid. Ali vivia um homem que, segundo ela, poderia ter informações das terras de Overton, de modo que eles conseguissem investigar sem adentrar as terras da tal Casa.
Jack não queria ser reconhecido nem que seus homens fossem, Sigrid não queria ir até lá, temia muito, o medo começava a lhe avisar algo. Então, Simon foi buscar a informação com quem quer que morasse ali.
Rios de Sangue não demorou muito, foi com dois dos bandidos que ficaram do lado de fora. Lá dentro encontrou um velho que dormia, mas logo acordou com a entrada do forasteiro. Depois de passado o desânimo e a tensão de se lhe dar com um invasor, Simon conseguiu conversar, alegando ser um viajante. Quando perguntado sobre Os Outros, o velho disse que não sabia nada. Simon percebera o nervosismo e insistiu, até convencer o velho de que ele era um patrulheiro da muralha e que estava ali para vencer Os Outros, e que ele também sabia como fazer isso. O velho temeu, informou que tudo que eles falassem ali Os Outros saberiam, mas num desespero final contou a Simon o que sabia. O velho temeroso disse que Lorde Ritter Overton não cuidava mais das terras como antes, as suas tropas defendem apenas sua torre. Diz-se que ele fez um pacto com Os Outros e que tanto ele quanto suas tropas são aberrações d'Os Outros. Por isso as pessoas não querem mais viver ali, como também pelo fato de não se ter mais segurança no local.
Após conseguir aquelas informações, Simon decide partir rumo à Torre Overton, falar diretamente com o Lorde Ritter Overton.
Continuam viagem e agora rumo a Torre Overton. Simon não informa tudo a todos, apenas que iriam para lá para ter uma audiência com o lorde local, afinal, Simon ainda era um nobre.
Simon conta apenas para Jack que há verdadeiras suspeitas de que haja Outros pelo local. Jack decide que eles só precisam de uma prova e depois voltam com a informação, mas Simon decide que irá até o fim e não retornará. Naquele momento sua obsessão lhe acorrentava, era seu desejo, era o que havia escolhido. Ou era o que Frank havia escolhido para Simon? Afinal, não fora Simon quem escolhera ir para a muralha.
Prosseguiram.
Mas na noite daquele dia não dormiram, apenas caminharam.

Dia 7, Quarta Semana, Segundo Mês:

Amanheceram este dia caminhando, mas o dia não amanheceu com eles. A morte lhes alertava de todas as formas, e um dia escuro sempre é prenúncio de morte. Ao menos era esse o pensamento que dançava pela cabeça da maioria dos viajantes, não era uma situação normal, fatalmente.
Sigrid teve dificuldade até mesmo para se orientar naquela situação. Eram suas sensações, cansaços e fomes que lhes diziam se era manhã, tarde ou noite. Talvez.
Quando estavam para se aprontar e montar um acampamento para descanso, um dos bandidos de Simon avisa que avistou algo a frente, e sua brancura de temor fez com que Simon pedisse para que os outros esperassem, ele iria ver junto do bandido temeroso.
Ao chegar lá, primeiro viu um calçado conhecido encardido de sangue que lhe soou familiar, depois uns dedos de pé, depois um pé, um braço, uma mão, tripas, uma pessoa despedaçada. Era o Velho da Cabana da colina que ele falara no dia anterior... Aquilo não era comum, mas não era o suficiente para enjoar o estômago de Simon, ele não era um homem comum, parecia não temer nada que lhe aparecesse, quase incapaz de ser abalado pelo mundo, sem medo algum até da morte, e essa era sua obsessão, e essa era sua loucura. Cada presságio de tragicidade só lhe deixava mais ávido a seguir seu destino.
Quando os outros viram aquela cena, só havia um pensamento e uma voz para todos: vamos voltar! Devemos voltar! Não era uma cena simples de se ver, e certamente não era uma cena que nada dizia. Até que Simon conseguiu decifrar o que era aquilo, os pedaços do velho formavam algo, estavam ordenados, não simplesmente despedaçados ao léu. Estava escrito, na língua dos homens de Westeros: "O Inverno está Chegando. Saiam dessas Terras". Mas isso, Simon não disse a todos, ele precisava que todos fossem com ele, havia um destino a seguir, se fosse necessário que todos ali morressem para seu destino, ele faria. Simon queria encontrar Os Outros, queria acabar com eles, queria mostrar que era o melhor e sempre seria. Mas, mostrar para quem? Simon fizera com que Os Outros fossem o troféu que ele deveria mostrar a Frank. Ele queria alguma coisa de seu pai, palavras que fossem... mas só havia silêncio. É isso que a morte nos tem a dar: dor e silêncio. Aqueles que vivem, vivem tendo as palavras como armas, e isso não parece capaz de vencer a morte. Simon estava prestes a descobrir que o caminho mais difícil a seguir é a vida, a morte é sempre o mais fácil. De todas as formas, Simon já entrara derrotado em sua guerra pessoal, pois nunca conseguiria ter com Frank o que precisava.

Depois de convencer os companheiros de viagem, Simon segue mais uma longa caminhada ainda naquele dia e por fim monta acampamento e todos descansam distante dos restos do velho da colina.

Dia 1, Primeira Semana, Terceiro Mês:

"Ah!", foi o primeiro grito de uma parte do acampamento.  Primeiro de tantos outros que viriam. Um dos bandidos aparece desesperado, até que Lucian o para para saber o que acontecera, e é quando todos percebem. Algum tipo de vulto começava a passar por eles e por onde passava corpos caiam ensanguentados e cortados no chão. O temor se apoderou do coração de todos. Antes de raciocinar bem, Simon ainda viu três dos bandidos serem mortos. Sigrid tentou se esconder pelo acampamento, como se pudesse fugir do medo. Corram! Fujam! Socorro! Eram os gritos, entre tantos outros. Era um medo que arruinava a alma de qualquer um, mas não a de Simon. Ele fazia o seu destino, e fez com que o destino não lhe deixasse temer aquela criatura. Enquanto todos corriam de medo do vulto, Simon corria em sua direção, com espada e escudo em mãos, como se corresse para a sua maior glória, quando pode ter a certeza de que corria para o seu desejo. Era uma silhueta negra, de brilhantes olhos azuis, cabelos longos, alguma coisa que ora parecia uma armadura, ora não, como se se mesclasse com as cores locais, além de algo como se fosse uma espada que ofegasse gelo.
Jack gritava para que Simon retornasse, mas eles ainda puderam ver a morte de Luccian nas suas frentes, aquela coisa matava como se respira. Sigrid ainda gritou para que eles fugissem, mas viu que não se esconde do medo, quando tentou descobrir se se podia fugir disso, correu. Rondi também não ficou, correu com a plebeia.
Contudo, todos ainda puderam ver quando Simon partiu com tudo para um ataque fulminante contra a criatura, num salto e dando toda sua potência num golpe com a Montante de Aço Valyriano. Aquele golpe foi o suficiente para ruir de medo qualquer homem em plena sanidade, mas não para Simon. Simon não era um homem comum, ele não queria ser um homem comum. Mas isso não foi o suficiente para manter a promessa de Simon que guardaria com honra aquela Espada de Drescher. No simples encostar, no simples contato com aquela criatura, a espada rachou completamente e ruiu, com sua lâmina caindo em minúsculos pedaços no chão. A melhor de todos os materiais já vistos em Westeros! Nem mesmo o mais poderoso Aço Valyriano foi capaz de sequer mover aquela criatura. Simon, abismado e assustado sem demonstrar, pode dessa vez entender tudo que já ouvira em histórias sobre Os Outros na muralha.
Os Outros
Contudo, Simon já estava decidido, ele já traçara seu destino ao vencer o medo dos homens comuns. E geralmente homens sem medo perdem o limiar entre a bravura e a loucura. Simon tomou outra arma, enquanto os mortos começavam a se levantar, e pela segunda vez Simon via os mortos se levantarem. Mas dessa vez não eram apenas mortos, mas um Outro.
Jack não tinha mais como continuar, gritou mais uma vez para que Simon corresse enquanto começava sua fuga. Contudo, Rios de Sangue ainda ficou e derrotou alguns mortos que haviam levantado. Ao passo que começava a ser atacado pela espada daquele Outro. Embora aquela espada ultrapassasse sua armadura como se fosse papel, Simon era um homem mais que resistente. Tentou diversas vezes desarmar a criatura, numa esperança de que com a própria espada da criatura pudesse destruí-la. Até que conseguiu, mas a custa de vários ferimentos nesse tempo. Contudo, uma segunda vez um homem qualquer ruiria, ao ver quando a espada foi desarmada e jogada longe, que ela simplesmente desaparecera feito vento e reaparecera nas mãos da criatura, que olhava Simon com um sorriso desta vez.
"O que você quer criatura?", perguntara Simon antes de começar a correr, fora respondido com mais um corte de espada. Só então, depois de entender porque os patrulheiros da muralha sempre falavam que ao ver um Outro se deve correr, Simon decidira correr. Mas sem desistir, ele nunca fora derrotado, e continuaria sem ser: Ninguém derrota Simon Rios de Sangue. Pois, Simon é o melhor, nasceu para isso.
O desespero da fuga surgia tímido em Simon, mas ele fingia para si mesmo que não era nada. Até que parecera conseguir despistar a criatura.

Cansado, desolado, sozinho. Não conseguiu encontrar rastros de nenhum outro, mesmo com suas grandes habilidades nisso. Todos se perderam, provavelmente. Era um verdadeiro deserto de planície numa escuridão tenebrosa.

Contudo, Simon não desistiu. Mesmo tendo em mente os pedaços do velho que lhe diziam para sair daquelas terras, mesmo tendo visto o melhor dos aços simplesmente não tendo feito nada com a criatura, Simon não suportava aceitar qualquer derrota, ele queria a atenção de seu pai, nem que para isso precisasse encontrar a morte. Não desistiu e decidiu continuar caminho para a Torre Overton, para as profundezas daquela terra amaldiçoada pelos Outros. Caminhou e caminhou, correu e correu.

Até que cansou, precisava descansar, não conseguiria continuar sem isso, decidira dormir e o fizera em cima de uma árvore, de modo que pudesse se esconder. Mas Simon esquecera de ouvir o velho da cabana da colina: "O que quer que eu fale aqui, Os Outros saberão.". Simon dormiu, na esperança de enganar a criatura e desviar o caminho indo para as profundezas da terra.

Dia 2, Primeira Semana, Terceiro Mês:

Mas a realidade sempre acorda aqueles que sonham. E ela acorda com dor e gosto de sangue, principalmente aqueles que querem vencê-la com sonhos. Foi assim que Simon acordou no alto da árvore, com aquela espada esbravejando gelo em suas tripas e o Outro lhe olhando acordar. Sem muito resistir, Simon ainda tenta reagir atacando a criatura com uma espada que havia pegue do chão na fuga, mas a espada teve o mesmo fim da Montante de Drescher. Depois disso, Simon cai da árvore, já amplamente ferido.
Mas não foge, fica pronto para um combate com a criatura, tirando uma faca de suas botas. Já não estava mais com escudo ou armadura, jogara durante a fuga de modo que pudesse lhe ajudar a ser mais rápido.
Ainda recebeu dois outros golpes antes de jogar a faca na criatura e perceber o mesmo fim das outras lâminas. Simon recebeu golpes que matariam qualquer homem comum, mas Simon insistia em não ser um homem comum. Mas mesmo Simon também cai. Uma tontura lhe anunciava a derrota, e o gosto amargo na boca lhe mostrava o que ele não queria ver. Ele era um homem, como todos que ele já matou em sua vida. Não era herói algum, pois morreria ali. E morreria sem chamar a atenção de seu pai, apenas em seus devaneios, nada além. E isso ele não suportava, ali ele desejou a morte. Mesmo quando ouviu da criatura em sua língua "Saia dessas terras, essa é a sua resposta.", não retornou, quase rastejando continuou na direção das terras, seguindo a criatura que lhe virara as costas.
Simon ainda tentou lutar com suas mãos nuas contra a dura realidade que se mostrava diante de seus olhos. Era simples matar homens por toda a vida, difícil é descobrir que todos são feitos da mesma carne e do mesmo osso. "Mate-me. Já que começou isso, termine.", mas nem mesmo ordenar ou pedir Simon podia mais. Morrer ali seria sua última vitória, e até nisso Simon fora derrotado, contrariado, e isso ele não suportava. A criatura não lhe matou, mas arrancou suas duas mãos, as habilidosas mãos de Simon Rios de Sangue, capazes de empunhar armas e acabar com qualquer um. Além de sua perna esquerda, do joelho para baixo. O gelo das mãos da criatura eram suficiente apenas para deixar Simon sentir uma dor incapaz de lhe desmaiar, como aconteceria para qualquer um naquela situação. De modo que Simon visse tudo que acontecia. Não eram pedaços de seu corpo que eram arrancados, mas seu orgulho, sua vaidade. O vaidoso Simon Rios de Sangue enfrentava sua maior derrota, e ela não era a morte. A morte seria sua vitória. A vida que era sua derrota. Ali, Simon descobrira a verdadeira face da crueldade, ele que sempre sentiu gosto pela crueldade, agora degustava o delicioso sabor da crueldade. Naquele momento, Simon começara a sentir que a morte é o caminho mais fácil, embora não estivesse em condições de entender.
Não conseguiu entender nem mesmo a si, mesmo ao sentir seus olhos marejados quando estava sendo esquartejado. Ali entendera a fragilidade de sua própria condição, a sua própria fragilidade. Ali Simon se mostrou como era, apenas um bebê choroso escondido numa enorme camada de desamparo, um bebê frágil que só queria chamar a atenção de seu pai. Sua última sensação foi a de dormir feito dormia quando bebê nos braços de seu pai.


Espírito do Norte: O Velho e o Novo Locke

Dia 4, Primeira Semana, Quarto Mês:


Tempos depois, Simon tem sua desilusão: está vivo. Abri os olhos, ainda sentindo dores pelo corpo. Se percebe numa cama dentro de um quarto humilde. Sua segunda desilusão: não fora tudo um sonho. Percebe que não tem mais suas mãos, e do joelho para baixo de sua perna esquerda, também nada. O desespero e a vergonha tomam conta de seu coração, seu único desejo é morrer, não há mais motivos para viver. E foi isso que disse a Jack, Sigrid e Rondi, quando eles entraram. Ainda soube por eles o que aconteceu, que a própria criatura os encontrou e deixou seu corpo, dizendo que eles só estavam vivos por causa de Simon, e desde então eles cuidaram dele para que ele se recuperasse. Mas nada adiantava, Simon não queria ouvir mais nada. Ele só queria a morte, e cobrou de Jack o favor que fez, queria a sua própria morte.
Jack saiu com Sigrid e Rondi, após concordar com Simon que traria veneno para que ele se matasse. Jack pede para Sigrid e Rondi que eles fossem até a montanha do grifo para descobrir o que pudessem sobre Simon, para saber o que aquele homem tinha para não ser destruído pelos outros, enquanto prometeu que cuidaria de Simon.

Sigrid e Rondi partiram.

No quarto em que Simon estava, entraram Jack e o Velho Ondrew Locke. Simon logo fechou o rosto, mas saudou seu amigo, que se demonstrou mais debilitado que da última vez que eles se viram, já praticamente cego.
Simon não tirava a morte de sua cabeça, mesmo Ondrew tendo lhe falado que aquilo era só uma batalha, havia uma guerra inteira pela frente. Que aquilo não era o fim, que o próprio Ondrew também não era mais capaz de lutar, mas mesmo assim não desistira. Contudo, deixou o copo de veneno ao lado de Simon para que ele pudesse se matar se quisesse. Se for covarde o suficiente para desistir de sua vida, vá em frente, disse Ondrew, a vida é sempre a escolha mais difícil, é muito fácil escolher a morte. Foi ali que Simon pode entender mais do que jamais pensara. A vida sempre fora simples para ele, nunca imaginara que a vida pudesse ser mais complexa que uma batalha de espadas. Só então começou a sentir que as verdadeiras guerras são travadas dentro de nós, todos os dias, e sem espadas. Ser um guerreiro nada tem a ver com empunhar espadas. Num choro incontido, Simon bate com o braço no copo de veneno, derramando-o. Contudo, ainda se pergunta: que razões tenho para viver?
Para ele, ele havia morrido ali, na frente do Outro. Ele não era mais Simon Rios de Sangue.
Fatalmente, nos cegos olhos de Ondrew Locke, aquele não era mais mesmo Simon Rios de Sangue, aquele velho começou a respirar antes de prosseguir, enquanto começava a pensar que o homem comum havia morrido contra o Outro, pois homens comuns morrem assim, apenas heróis enfrentam a vida e todas as circunstâncias. Um herói nada tem a ver com glórias, mas com saber lidar com as desgraças de suas escolhas. Aquele velho precisava fazer com que aquele espírito nascesse, antes que sua velhice não lhe desse mais tempo.

Os dois estavam de pé na varanda do Velho Castelo. Uma multidão de moradores das terras esperando o pronunciamento. Simon recebia ajuda para manter-se de pé. Ondrew Locke não tinha filhos ou descendentes, apenas Simon era digno de dar continuidade a Casa Locke, e o velho pediu para que Simon cumprisse a missão que veio fazer no norte, que unisse o Norte, e fizesse isso como Lorde. Que Simon fosse o filho que Ondrew nunca pode ter. Que Simon fosse o novo Lorde da Casa Locke, pois a velhice de Ondrew não lhe deixava mais fazer isso.

A mão do Velho Locke erguia o braço do Novo Locke:

Lorde Simon Locke, O Espírito do Norte
"Este é o Guerreiro Além das Muralhas, ele é o único capaz de nos ensinar a vencer todos os desafios! Esse é o Lorde-Patrulheiro! Esse é o Homem de Gelo! Esse é o homem que encarna o Espírito do Norte! Nomeio a todos o seu novo Lorde, Lorde Simon Locke! Esse é o momento em que esse homem começará a mudar as nossas vidas! O Espírto do Norte! Simon!", e outra voz ao lado de Ondrew, "Simon!", e outra voz da multidão, "Simon!", e mais outra, "Simon!", e mais outra, "Simon!"... Simon! Simon! Simon!

Não era sua habilidade em espada que fazia com que toda aquela população o aclamasse e lhe visse como um verdadeiro Senhor do Norte. Uma comoção generalizada tomou conta dos corações de todos, por algum motivo todas as pessoas acreditavam naquele derrotado homem sem mãos e perna, aquele frágil homem triste, aquele homem de vaidade destruída. Não era por nada mais além do fato de ele ser quem ele era. Simon ainda era um Grifo? Simon ainda era um Corvo? Simon fez seu próprio destino e começa a arcar com suas escolhas e desejos. Ousou desafiar o destino que ouviu da boca de Vester no Renascimento do Grifo. O que era Simon agora? No momento, Lorde Simon Locke, O Espírito do Norte.



...

Enquanto isso, do outro lado do Norte.














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